HC INFORMA: Ações da Enfermagem na prevenção de quedas dos idosos.

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Maria das Graças Raváglia Pinto
Peterson Gomes Faria
Silvia Marques Teixeira

   Texto publicado sob coordenação do  Núcleo de Educação Permanente do HC

O envelhecimento das pessoas pode ser observado na pirâmide populacional que se transforma, passando de um modelo de população em crescimento (forma piramidal) para um modelo de população estabilizada (forma “em barril” ou retangular) projetando os efeitos decorrentes das quedas nas taxas de mortalidade e fertilidade. A tendência a um alargamento das porções média e superior da pirâmide populacional demonstra um maior contingente de pessoas atingindo idades mais avançadas. Explicando que o rápido processo de envelhecimento da população brasileira se dá em razão da transição de uma situação de alta mortalidade e alta fecundidade, para uma de baixa de mortalidade e gradualmente baixa fecundidade como justificam as estatísticas para os próximos anos (MINAS GERAIS, 2007).

O idoso pode ser definido como aquela pessoa que atingiu 60 (sessenta) anos e mais. Mas é importante esclarecer que o envelhecimento, como processo normal do ciclo da vida, não é homogêneo. Os estudiosos Minayo & Coimbra (em publicação feita em 2002) explicaram que o envelhecimento não é um processo homogêneo porque cada pessoa vivencia essa fase da vida de maneira diferente.

Segundo Papaleo (em publicação feita em 1997) a queda em idoso constitui um evento bastante comum e devastador. Embora não seja uma consequência inevitável do envelhecimento, pode sinalizar o início de fragilidade ou indicar doença aguda. Além dos problemas médicos, as quedas apresentam custo social, econômico e psicológico enormes, aumentando a dependência e a institucionalização.

Portanto, a promoção e prevenção de saúde para os idosos devem ser voltadas à sensibilização do sentido de que a saúde funciona como uma poupança, necessitando ser construída dia-a dia, para a obtenção de resultados satisfatórios.

Diante do exposto, abordar as ações de enfermagem no contexto da equipe interdisciplinar, permeadas pelos pilares voltados à autonomia e independência desta geração que vem, neste século, promovendo a inversão da pirâmide populacional, justifica a realização deste estudo.

O presente trabalho, através de revisão de literatura, objetiva uma abordagem ampla e diferenciada das doenças físicas e dos fatores ambientais que, interagindo juntos ou separadamente, podem ocasionar as quedas. Pretende-se ampliar o espaço da sensibilização, difundindo conhecimentos que visem a capacidade funcional e promovam a redução do risco de queda em idosos. E ainda, descrever as principais causas e os fatores intrínsecos e ambientais relacionados à ocorrência de quedas, difundir as práticas sinalizadoras da prevenção, garantindo melhoria na qualidade de vida do idoso.

CONDIÇÕES RELACIONADAS ÀS OCORRÊNCIAS DAS QUEDAS EM IDOSOS

Segundo Umphred (em publicação feita em 1994) a queda ocorre pela perda do equilíbrio postural, o qual está relacionado á insuficiência súbita dos mecanismos neurais e osteoarticulares envolvidos na manutenção da postura.

Segundo Fabrício & colaboradores (em publicação feita em 2004) as causas das quedas em idosos podem ser variadas. Os fatores responsáveis por elas têm sido classificados na literatura como intrínsecos, ou seja, decorrentes de alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, a doenças e efeitos causados por uso de fármacos. Destacam-se também os extrínsecos, fatores que dependem de circunstâncias sociais e ambientais que criam desafios ao idoso.

Segundo Silva (em publicação feita em 2007), dentre os fatores intrínsecos relacionados ao envelhecimento e ao aparecimento de doenças, a tonteira ocupa papel de destaque, especialmente quando associados aos fatores extrínsecos. O ambiente externo apresenta menor ocorrência de queda, pelo fato do idoso passar a maior parte de seu tempo no domicílio. O ambiente externo constitui para este indivíduo um local estranho, e que muitas vezes não respeita suas limitações e nem o considera como um cidadão participativo e ativo da sociedade.

Ainda conforme o autor, quanto mais vulnerável e mais frágil estiver o idoso, mais suscetível aos riscos ambientais, mesmo mínimos. O grau de risco depende muito da capacidade funcional. Os idosos fragilizados caem durante atividades rotineiras, aparentemente sem risco (deambulação, transferência) dentro de casa, num ambiente familiar e bem conhecido. Este ambiente, que pode parecer o mais seguro possível pela familiaridade, pode tornar-se, muitas vezes, um ambiente de risco.

Muitas situações que eram corriqueiras, em sua juventude, passam a serem perigos iminentes.

Somente a análise e interpretação de cada queda, isoladamente, permite chegar ao plano de tratamento.

  • Fatores intrínsecos (próprios ao indivíduo)

Segundo o Ministério da Saúde (em publicação feita em 2007) os fatores intrínsecos decorrem de alterações fisiológicas relacionadas ao avançar da idade, da presença de doenças, de fatores psicológicos e de reações adversas de medicações em uso. Entre os idosos com mais de 80 anos, sexo feminino, estes fatores incluem quedas precedentes, equilíbrio diminuído, marcha lenta e passos curtos, baixa aptidão física, fraqueza muscular, alterações cognitivas.

Para Eliopoulos (em publicação feita em 2005) a partir dos 40 anos de idade a estatura começa a diminuir cerca de 1 cm por década, isso se dá devido à diminuição dos arcos do pé, aumento das curvaturas da coluna, além de um encurtamento da coluna vertebral por alterações nos discos intervertebrais. Os diâmetros da caixa torácica e do crânio tendem a aumentar. O nariz e os pavilhões auditivos continuam a crescer dando a conformação facial típica do idoso.

Todas estas mudanças levam à diminuição de massa consumidora de oxigênio, quando expressa por unidade de peso ou por unidade de superfície e os principais órgãos internos mais afetados são os rins e o fígado, embora os músculos sejam os que mais sofram prejuízo ponderal com o envelhecimento.

Como descrito, as quedas são fontes de desabilidade e morte ou séria  ameaça para a saúde psicológica e física das pessoas idosas. As alterações fisiológicas advindas do processo de envelhecimento associadas às inúmeras patologias, expõem os idosos a situações de vulnerabilidade, perdas funcionais e morte.

  • Fatores extrínsecos (externos ao indivíduo)

Para Neto (em publicação feita em 1999) os fatores extrínsecos das quedas consideram os obstáculos ambientais que podem predispor o idoso a cair. Na comunidade, a maioria das quedas ocorre na própria residência dos pacientes. Entre lugares de maior incidência estão incluídos escadas, quartos e salas. E as atividades rotineiras relacionadas às quedas incluem sentar ou levantar de camas e cadeiras, tropeçar em objetos da casa ou revestimentos do assoalho, como tapetes, carpetes, soleiras de porta, além de escorregar em superfícies molhadas usando calçados inadequados ou descendo escadas.

Neto (1999) ressalta que, nos hospitais e casas de repouso, o lugar mais comum de quedas é o quarto do paciente. A maioria destas quedas acontece à beira da cama, quando o paciente está se deitando ou levantando. O autor observou que, em alguns casos, as grades da cama estavam levantadas e o paciente sofreu a queda na tentativa de subir pela grade ou pelos pés da cama. Nestas instituições, o banheiro é um local que oferece um grande risco pelo fato do paciente entrar ou sair do banheiro sozinho, com pressa de chegar ao vaso sanitário, ou escorrega no chão molhado.

O autor destaca que as cadeiras normais e de rodas estão implicadas em episódios de queda por causa de equipamento inapropriadamente planejado ou de técnicas ruins de transferência quando o paciente está se sentando ou levantando.

As quedas ocorrem ainda, quando ocorre tropeço nos pés das cadeiras ou em suportes para os pés: cair sobre as grades da cadeira, travadas ao levantar, é outra causa de quedas.

O autor destaca também que a iluminação deficiente, a variedade de intensidade de iluminação ou pela presença de lâmpadas desprotegidas podem causar reflexos, dificultando a visão naqueles em que as pupilas já não fecham adequadamente. Os ambientes monocromáticos, com vários tons de uma mesma cor ou cores parecidas (pintura das paredes, mobiliário, tapetes) pode colocar o idoso em risco permanente de quedas.

Móveis frágeis, principalmente quando estão localizados em pontos estratégicos onde o idoso possa a ter necessidade de apoio, como em corredores, podem aumentar os riscos de ocorrência de quedas; cadeiras baixas e sem braços, devido à redução do tônus muscular, principalmente do quadríceps geram maior dificuldade para o idoso levantar-se; camas inadequadas impossibilitam o idoso deitar-se e levantar-se sem grande esforço (NETO,1999).

A escada com corrimão e degraus não apropriados e iluminação deficiente concorrem para a ocorrência de quedas em idosos; a maior quantidade de quedas em escadas ocorre quando o idoso está descendo e nos dois últimos degraus.

Portanto, segundo o autor citado acima, o corrimão deve continuar além do último degrau, deve ser bilateral e seu desenho permitir que a mão possa agarrá-lo firmemente. Os degraus devem ser revestidos por piso antiderrapante, bem visíveis e de mesma altura.

Os vasos sanitários de altura padrão são, em média, quinze centímetros mais baixo do que o necessário para a maioria dos idosos e a falta de apoio lateral pode dificultar suas transferências. O Box é fator importante para a segurança do idoso quando no banho (NETO,1999).

O autor chama atenção para os calçados inadequados. Quando estes não possuem anteparo posterior, como a maioria dos chinelos, ou com saltos altos, estes podem causar fáceis tropeções, principalmente quando há a necessidade de um deambular mais rápido.

  • Fatores Arquitetônicos

Conforme Pascale (2002 apud MORAES, 2008, p.129) o ambiente físico participa de forma crucial na manutenção das habilidades dos idosos. Em decorrência disso, os espaços sociais devem contribuir para que os idosos possam conviver com pessoas de todas as idades e ter condições de promover uma vida com mais qualidade. Para o autor, os espaços, hoje, deverão ser concebidos a partir do conceito de design universal e da acessibilidade integral, baseado nos conceitos de arquitetura, engenharia, urbanismo e outros e deverão servir também à reabilitação e adaptação do idoso.

Com a idade, o ser humano sofre mudanças gradativas no metabolismo, estatura, locomoção, visão e audição que comprometem o conforto. Nesse âmbito, cabe ao arquiteto elaborar projetos compatíveis com essas mudanças buscando garantir o conforto e a segurança em cada uma de suas atividades. Para o autor, não são necessários gastos e mudanças radicais. Ele cita um projeto desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, o qual nos permite observar que pequenas modificações podem ser bastante úteis.

AÇÕES DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DAS QUEDAS EM IDOSOS

As intervenções relacionadas ao envelhecimento devem ter por objetivo assegurar aos idosos, o quanto possível, a manutenção da capacidade funcional, física, mental e de qualidade aceitável (MATHIAS, 2006).

Os objetivos da intervenção de Enfermagem consistem em maximizar as condições através de modificações nos fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados à saúde do idoso. Tais intervenções dependem dos problemas identificados pelo Enfermeiro para fins de criar a melhor condição geral possível.

A visita domiciliar (VD) se destaca entre as ações de Enfermagem na prevenção de quedas. A Política Nacional de Saúde do Idoso prevê que este seja visto em seu contexto familiar e social. Faz-se necessário que os membros da equipe da Estratégia de Saúde da Família, entre os quais se destaca o enfermeiro, desenvolvam, em suas visitas, ações que incluam a identificação de situações de risco para o idoso no domicílio, e que possam gerar acidentes, como quedas. É fundamental o trabalho junto à família, para manter o idoso o mais contextualizado possível, e discutir com ambos, o idoso e sua família, a respeito dos fatores de risco e neles intervindo, se necessário (BRASIL, 2007).

As casas das pessoas idosas geralmente são cheias de perigos ambientais. Entre os fatores relacionados que se pode detectar em uma visita domiciliar pode-se citar: móveis instáveis, quarto de dormir, cozinha, escadas sem corrimão ou escorregadias, tapetes soltos, iluminação deficiente, chinelos inadequados (FORCIEA & MOUREY, 1998).

O Enfermeiro deve avaliar a natureza das estratégias ambientais e sugerir medidas práticas para minimizar as quedas em idosos, tais como a utilização de dispositivos de auxílio à marcha (bengalas, andadores, cadeiras de rodas); observar as características do idoso, suas necessidades e desejos, e seu desempenho funcional naquele ambiente (VIDIGAL & CASSIANO, 2008).

Outras ações de Enfermagem incluem observar o espaço, caminhando pelo ambiente acompanhado pelo idoso e esclarecendo as dúvidas quando estas surgirem.

Outro aspecto relevante da intervenção do Enfermeiro, enquanto educador e promotor de saúde é alertar a família/cuidador para que participem ativamente da prevenção de queda entre os idosos de seu núcleo familiar (MINAS GERAIS, 2007).

A orientação aos pacientes idosos encorajando-os a lidar com as quedas e promovendo a recuperação de sua segurança e autoestima são ações valiosas que a Enfermagem pode sistematizar em seu cuidado, uma vez que o idoso se sente fragilizado após a queda, elevando o risco de ocorrência de quedas subsequentes (MORAES, 2008).

Como ações de prevenção primária de saúde, o Enfermeiro deve: incentivar a prática de atividades físicas; esclarecer a importância da nutrição adequada; avaliar os riscos domésticos; e encorajar a revisão periódica da medicação. Na prevenção secundária é fundamental: a identificação dos fatores que aumentam os riscos para as pessoas que já sofreram quedas (MINAS GERAIS, 2007).

Entre as condições que acometem a população idosa, a desnutrição é uma das mais importantes e das menos estudadas. O idoso mal nutrido tem prejuízo da independência funcional e da qualidade de vida. Desta forma, é necessário que a equipe reconheça que a nutrição é um componente essencial na assistência ao idoso, somando os esforços necessários para identificar e reconhecer pacientes portadores de desnutrição ou em condições de desenvolvê-la (RIBEIRO et al., 2008).

Porém, é importante ressaltar que, para que as ações de Enfermagem sejam sistemáticas e efetivas, é necessário que os serviços sejam acessíveis à população idosa, e flexíveis para reconhecer situações que estão em constantes mudanças, procurando atender aos idosos de maneira integral. A provisão de serviços sociais, condições de trabalho, de moradia, seguridade, alimentação, transporte e recreação, enquanto políticas sociais são fundamentais.

Para tanto, faz-se necessário que os estados e municípios capacitem profissionais de saúde e organizem os serviços, onde o Enfermeiro desempenha um papel primordial, para que a atenção ao idoso se solidifique como uma política governamental.

CONCLUSÃO 

O aumento da longevidade e a busca por uma melhor qualidade de vida são fatores relevantes no novo milênio e se apresentam como grandes desafios da modernidade. Este momento exige posturas cada vez mais diversificadas para que o atendimento às necessidades de todos os idosos seja feito de uma maneira globalizada.

Como vimos, as quedas representam a principal causa de incapacidade entre os idosos e compreendem a intercorrência de maior importância, causando desde pequenas escoriações até fraturas diversas, traumatismos cranianos e fraturas de quadril, sendo esses últimos, muitas vezes, causa de óbito .

O profissional Enfermeiro, enquanto integrante da equipe interdisciplinar que assiste aos idosos, precisa estar sensibilizado no sentido de desenvolver ações para prevenção das quedas nesta população, através da educação continuada. Enquanto educador/cuidador e integrante da equipe interdisciplinar, compete a este profissional a criação de projetos de adaptação ambiental, suporte familiar e social.

O suporte social abrange as condições de acessibilidade aos locais nos quais os idosos estiverem inseridos, bem como a participação ativa nas políticas vigentes, objetivando promover maior liberdade e autonomia, traduzidas por funcionalidade para a geração que está se tornando, de forma rápida e acelerada, no perfil da população brasileira e mundial.

Levando em conta as limitações próprias do método utilizado neste trabalho, os achados levantados pelos autores suscitam a necessidade de realização de outros estudos, particularmente voltados às pesquisas avaliativas dos serviços de saúde, para fins de aprofundar a respeito do desenvolvimento de ações preventivas.

E de sua efetividade na prevenção das quedas em idosos.

Bibliografia

PINTO, M.G.C.R; FARIA.P.G; TEIXIERA;M.S. Ações de Enfermagem na Prevenção de Quedas nos Idosos.Cataguases: Faculdades Doctum 2008.

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